sexta-feira, 24 de abril de 2020

Como ser (politicamente) coerente?


Não nego, a política está em minhas veias, em tudo que faço, mas porque então eu estaria tão avessa às discussões políticas governamentais nos últimos tempos?
As notícias de hoje, junto a uma pequena discussão e uma grande revolta expressa em duras palavras me fizeram perceber e assumir publicamente pela primeira vez por que eu me afastei de temas políticos governamentais ( frise-se) e de me envolver em questões cotidianas há um bom tempo. Entendi que talvez eu me sinta frágil e sem estrutura emocional para lidar com tantos desgostos.
Dentro de uma visão de mundo crítica, via meus ideais e sonhos se tornando cada vez mais improváveis, inalcançáveis e irrealizáveis. Via um mundo sórdido, complexo e muito maior do que eu e meu entorno. E então me questionei se essa visão não me tornaria amargurada como os velhos[1].
Não quero ser uma pessoa amargurada, pessimista e crítica do mundo todo. Sempre tive aversão a essa ideia e cheguei até mesmo a fazer um voto, uma promessa, de nunca deixar o mundo me tornar uma velha amargurada.
Entendi que a esperança é o que nos torna jovens, perdê-la nos envelhece.
“Sonhos não envelhecem”, mas perdê-los nos envelhece.
Felizmente lembrei que tudo isso é apenas uma visão de mundo possível, uma bolha, entre tantas outras possíveis.
Imediatamente me veio outra visão, a de quem acredita no pequeno que cada um pode fazer em seus contextos. Como já dizia o grande mestre que tanto me acompanha nesse blog:
Na verdade o mundo é grande, mas está sempre mudando, não somos exatamente nós quem mudamos o mundo, isso é muita pretensão, porém fazemos parte dessa grande e incessante mudança. A pergunta então é: como fazemos parte dessa mudança?
Reclamar, chorar e espernear pode ajudar a aliviar as dores, mas não é exatamente a melhor atitude a se ter frente ao mundo.
Tampouco é necessário ser uma figura pública para fazer parte da mudança. Ouso dizer (mesmo imaginando possíveis críticas e aceitando-as de coração aberto), que nem mesmo é necessário ser militante para fazer parte dessa mudança. Admiro enormemente a militância, porém acredito que é algo para os fortes. 
Se eles são os fortes, nós somos a fortaleza!
Então a resposta, ao menos para mim, é ser e estar consciente de minhas ações. TODAS são escolhas políticas, de vida, de mundo, e sustentam e direcionam o mundo em que vamos viver. Todas!
Desde o que faço com meus rejeitos, o que consumo,  o quanto consumo, como consumo, de quem consumo, por que consumo. O que faço, ou deixo de fazer, como faço, para quem faço, e por que faço. O que você digo, como digo, para quem digo, e por que digo. Enfim, tudo o que penso, falo e faço! Ações e omissões em todas as direções.
Se eu acredito em um mundo mais pacífico com relações de qualidade, vou buscar me relacionar com qualidade, com respeito, vou buscar uma comunicação não-violenta e assertiva.
Se eu penso que não somos apenas aquilo que acreditamos ser, vou buscar entender o que está além de meu ego e suas infinitas preocupações.
A partir disso, direciono meus anseios para aceitar o que não tiver solução e poder contribuir na mudança do que puder ser mudado.
Que eu possa ser coerente com tudo o que eu acredito, sabendo que quando não conseguir, que eu possa perceber, aprender e melhorar para um dia SER a liberdade que acredito possível.
Que eu possa ser a honestidade que acredito necessária. Que eu possa ser a humildade que acredito fundamental. Que eu possa ser a sensibilidade, a compaixão, o amor, a alegria e a equanimidade que acredito em todas as minhas ações, manifestações e pensamentos.
De repente me senti mais coerente e revolucionária do que nunca, pois só é possível ser coerente, sendo aquilo que acreditamos, e é esse então meu propósito e objetivo.
Abrir esse coração também aqui publicamente é revolucionário para mim. Espero que também seja para você. Que possamos todos nos abrir, nos compreender e nos aceitar como somos, respeitar nossas limitações humanas, mudar o que puder ser mudado dentro de nossos corações e sermos o que acreditamos.
Que possamos ser no cotidano da mesma matéria de que são feitos nossos sonhos!
Na fluidez e mudança constante de nossos mundos, enfim agradeço à discussão política, ao encontro e a oportunidade de compartilhar mais uma reflexão desse meu mundo interior.




[1] Sem ofensas, chamo de velho justamente aquele para quem o sonho acabou, não tem nada a ver com a idade em si!

sábado, 4 de abril de 2020

Leve o tempo que levar, que possamos sempre sonhar!

Levei anos para voltar a postar algo aqui. Não que eu tenha deixado de escrever todo esse tempo, escrevi muito e intensamente em vários momentos, outros nem tanto, mas como toda lua ou ciclo da natureza, os pensamentos estavam mais introspectivos, sem motivação para publicar.


Agora, a fase de lua nova se renova e volta a brilhar no espaço do meu céu aberto a quem quiser compartilhar esse olhar das estrelas, ou dos fenômenos.


Não sei quanto durará esse novo ciclo de lua crescente que se mostra e aparece aos olhos físicos, mas fico feliz em aproveitar esse momento de quarentena para isso também, quem sabe a gente encontra aqui mais um canal para compartilhar nossos olhares, sonhos e visões, já que não podemos trocar esses olhares fisicamente e frente a frente, ao menos por enquanto.


E por falar em sonhos, é sobre isso que queria falar. 


Hoje é meu 22º dia de quarentena.


Levei 21 dias para assentar muita coisa aqui dentro, 21 dias para ter vontade de escrever, 21 dias fugindo do inevitável, buscando aplicativos e amizades em encontros virtuais, entretenimento, filmes, jogos online, etc. Levei 21 dias para apenas aceitar minha própria companhia e ficar em paz com o mais simples e banal cotidiano de apenas acordar, fazer um café da manhã com carinho para a família, sentar para meditar, ainda que não por mais do que meia hora, sentar para escrever, e simplesmente aceitar e relaxar. Para estar em paz por apenas respirar, uma vez após a outra.


Levei algum tempo e penso que cada pessoa levará o seu, mas estando em paz por simplesmente estar aqui e agora, me deu vontade de agradecer. Agradecer e compartilhar esse agradecimento.


Agradeci ao coronavírus, por permitir perceber o que há de mais sublime em cada fenômeno, pensamento, sentimento e ação. Por mais degenerado, caótico ou banal que pareça, na verdade sua origem é a mesma daqueles fenômenos que classificamos e consideramos mais elevados.


Hoje eu olhei para dentro do caos da minha mente, negações, medos, anseios, dificuldades, enfim, todo o lodo e as lágrimas (vertidas ou não), e imediatamente imaginei todo o sofrimento que tantos seres humanos estão experienciando neste momento. Percebi que não sou esses pensamentos. Essas emoções e sentimentos não me definem, e de igual maneira, ninguém deveria se resumir a isso, se identificar e se aprisionar nos pensamentos ou sentimentos que surgem. Eles são tão impermanentes e efêmeros quanto a aparente normalidade ou normose à qual estávamos acostumados, apostando dia após dia em sua continuidade. Essa foi mais uma prova de que somos, sempre fomos e continuaremos sendo LIVRES!


Agradeci ao coronavírus por me permitir parar tudo que eu fazia e apenas olhar. Olhar para dentro e olhar ao redor. Por me permitir imaginar, ainda que utopicamente, um mundo diferente, já que aquele em que vivíamos jamais voltará a ser igual.


Se a economia que conhecíamos não serve para enfrentar o momento que vivemos enquanto humanidade, que possamos pensá-la diferente, e ao invés de querer reconstruir algo que já era disfuncional, que possamos sonhar juntos como seria um mundo mais lúcido e equânime!


E igualmente se somos livres, que possamos sonhar como será também nosso novo ser após tudo isso passar!

Essa foi a motivação para escrever e compartilhar… 


Como dizia a velha frase clichê (mas nem por isso menos verdadeira): 


“Um sonho que se sonha só é apenas um sonho, um sonho que se sonha junto torna-se realidade”.


Por isso o convite é para sonharmos juntos!!


Como seria um mundo novo para você? O que você é capaz de sonhar?


Eu particularmente pensei que no meu sonho de mundo futuro, não deveria haver dívidas, gente rica, gente pobre. Teríamos prazer em cuidar de nós mesmos e do que está ao nosso alcance. Viveríamos com menos, pois não iríamos terceirizar cuidados e teríamos apenas o que somos capazes de cuidar sem perder nossa saúde física e mental. Acho que por isso, haveria menos academias, restaurantes e comércios, pois iríamos consumir apenas o essencial. Dessa maneira haveria menos indústrias poluindo o ambiente e menos necessidade de explorar a natureza. Poderíamos caminhar até nossos trabalhos e todos teriam um trabalho valorizado e que respeite seus limites humanos. Cuidar dos filhos e da própria casa, cuidar de si e cuidar de alguém também seria reconhecido como um trabalho, e não apenas o que produz algo econômico. 

Entenderíamos que ninguém é uma ilha ou está sozinho, nem ninguém se salva só, mas apenas nos salvamos quando nos cuidamos enquanto coletividade. Sendo assim, certamente iríamos ultrapassar a visão individualista e nossos pensamentos megalomaníacos teriam um fim. 

Nunca fui escoteira, mas penso que a visão do escotismo deve ser muito interessante para pensar em uma humanidade com capacidade de cuidar da vida e sobreviver mesmo em situações adversas de forma mais cooperativa, por isso as escolas também teriam que mudar. Certamente as disciplinas deveriam ser mais práticas, menos teóricas, para que o que as crianças aprendam seja algo realmente útil no cotidiano e não apenas para acumular conhecimento.


Por fim, mas não por último, nesse meu sonho, aprenderemos algo globalmente, e não apenas individualmente, e não formaremos pequenos grupos ditos "alternativos", mas sim "alterativos" pois, capazes de alterar nossa realidade, assim o faremos!


E para compartilhar mais uma boa dose de inspiração para sonhar, fui resgatar esse texto maravilhosos do grande mestre Eduardo Galeano em que ele proclama o direito ao delírio e o direito de sonhar!




Que possamos sonhar e realizar esses sonhos juntos, mesmo que leve tempo!


Assim como levei um tempo para voltar aqui, e cada um levará seu tempo para aceitar a nossa nova situação humanitária, que cada um em seu próprio tempo possa, ao final, igualmente confiar que a mudança é sempre possível para realizar tudo que pudermos juntos sonhar!