domingo, 27 de setembro de 2020

Agradecer e celebrar.

Hoje eu cheguei à última página do meu caderno da pandemia, um caderno cheio de reflexões, pensamentos, questionamentos e desabafos, meio diário, meio auto-análise; meio terapêutico, meio inspiração; e como gosto de escrever, estando essas últimas páginas do dia de hoje com uma visão tão bela e positiva, pensei que em meio a tantos desânimos e dificuldades podia ser interessante partilhar algumas coisas.


Hoje aqui em casa estamos no 198º dia de isolamento social. Mais do que o 'nós' aqui em casa penso que o 'estamos' se refere a algo maior, porque esse nós é muito mais um coletivo do que algo pessoal, individual ou familiar. Ainda que nem todos na coletividade sigam tendo tantos cuidados quanto há uns 100 dias atrás, muitos ainda permanecem firmes nos cuidados, e mais do que isso, só é possível seguir assim pelas redes de apoio que construímos.

Sobre esse ponto, algo que me marcou muito no primeiro curso de introdução à CNV (Comunicação não violenta) que fiz há alguns anos foi a frase enfática de que "ninguém é incrível sozinho", pois todos que se expressam de forma incrível no mundo na verdade são fruto de uma rede de apoio incrível! E isso é muito verdadeiro! Algo que parece muito óbvio, ao menos pra mim hoje, mas que eu não tinha parado pra pensar até então.

Por entender assim eu percebi que na mesma medida em que cuido dos seres ao meu redor, sou igualmente cuidada, e esse cuidado mútuo foi a melhor compreensão do amor que eu tive nos últimos tempos. É o que nos fortalece e nos permite aguentar e superar as dificuldades a cada dia.

Todos nos cuidamos e reconhecer e agradecer por isso é raro, precioso e não poderia guardar apena para mim.

Talvez esse texto então sirva como singela homenagem ou agradecimento à rede de apoio que nos permite viver bem, mesmo em isolamento social e mesmo diante das adversidades. Tanto aos familiares, amigos mais próximos, conhecidos, produtores, transportadores, e porque não incluir logo toda a biosfera?!

Faz sentido, afinal gratidão pela oportunidade de praticar concretamente algumas visões foi o que permeou as últimas páginas do meu caderno pandemico. 

Agradeci pela possibilidade de ver como oportunidade de prática e não uma 'maldição' ou pesar todas as coisas que deixei de fazer por interesse pessoal e dos impulsos e desejos egóicos que deixei de seguir. 

Por isso esse texto também pode se tornar uma mensagem de que é possível fazer renúncias alegres quando não estamos tão autocentrados. Pensar nos outros, nos meus pais, nas equipes médicas, na coletividade me faz ultrapassar vários hábitos mentais do autocentramento. Isso é uma oportunidade raríssima e por isso eu também agradeço. 

Enfim, acho que esse texto é também uma celebração, porque reconheço que temos muito a celebrar e comemorar por todo esse amor e união que vejo e que definem o sucesso, em minha humilde opinião, me fazendo lembrar de uma bela citação de Emerson:

Espero que esse texto seja bem sucedido nesse sentido também de trazer algo positivo a quem o lê. 

Que possamos todos ver a beleza em qualquer circunstância e celebrar a oportunidade de dar novos significados a qualquer situação, e que assim todos os seres possam ser beneficiados.