domingo, 3 de agosto de 2014

A promessa do futuro

Marcin Kolpanowicz


Tanto já foi dito sobre como o caminho é tão ou mais importante quanto o objetivo, mas acho que nunca é demais pensar ou falar sobre isso. 

Frequentemente olho ao redor, e parece que todos (ou quase todos), estão buscando incessantemente um ponto para alcançar, fazendo de tudo para chegar em algum lugar, se debatendo no caminho, insatisfeitos "por enquanto", sob a promessa de um futuro melhor, a ilusão e esperança de que um dia, quando alcançarem esse algo que almejam, poderão enfim descansar, ser felizes, e aproveitar a vida.
Como se esse tal dia ou lugar fosse de fato ser um ponto final, seguro, sólido e permanente...
Incrível como o ser humano tenta sempre deixar as coisas minimamente como deseja, e quando consegue, faz de tudo para manter da mesma maneira para sempre. 
Assim, vai estruturando a vida, fazendo planos, buscando ter as coisas sob controle, sem maiores problemas.
Engraçado como nessa maluquice esquecemos uma das maiores verdades da vida, a impermanência.
Criamos fixações, não conseguimos lidar bem quando algo nos afasta do que queremos ou nos aproxima do que não queremos, e com medo de perder o pouco que já foi conquistado, vamos criando barreiras absurdas contra as mudanças da vida, que parecem cada vez mais aterrorizantes. 
Desenvolvemos um receio de mudar completamente irracional. 
Mesmo quando são transformações favoráveis, ou quando as coisas já não estão muito boas, ainda assim nos agarramos ao pouco que temos com medo de perdê-lo.
Por conta disso, aceitamos relacionamentos estranhos, empregos ruins, amizades falsas, e ficamos chateados até mesmo quando essas coisas medíocres vão por água a baixo (não raro para trazer oportunidades melhores) porque no fim, sempre tememos e realmente esperamos que as coisas melhorem sem precisar de grandes mudanças.
Acontece que não importa o que façamos não há como vencer a impermanência e imprevisibilidade da vida. 
Por mais que tracemos metas e façamos tudo conforme o planejado, temos que trabalhar com o imponderável. 
Então por que quando as coisas não saem como esperamos nos frustamos? Por que não aprendemos a lidar melhor com essas questões, entendemos como as coisas funcionam e paramos de criar tantas expectativas?
Talvez seja preciso passar por várias frustrações, para que finalmente a gente se dê conta de que não controlamos o universo e de que não adianta resistir.
Mais cedo ou mais tarde, se realmente quisermos ficar de bem com a vida, é necessário fazer a mudança mais difícil de todas, que não é mudar de emprego, de relacionamento, de cidade, ou até mesmo de país. É preciso mudar de atitude, de padrões de pensamento.
Ao invés de criar planos megalomaníacos que nos levam a colocar em segundo plano nosso presente mais precioso, que é justamente o momento presente, simplesmente deixar o fluxo natural da vida correr. Sair da zona de conforto e tentar coisas novas, nem que a coisa nova seja não fazer nada, pois estamos tão atribulados, cheios de coisas para fazer, que talvez o diferente seja justamente ficar sozinho e parar para pensar um pouco. 
Talvez se fizéssemos isso com mais frequência, nos daríamos conta de que diante da ausência de controle sobre o amanhã e diante das impermanências da vida, realmente a única coisa que temos verdadeiramente para viver é o agora. 
Quem sabe aí, finalmente compreenderíamos as sábias palavras de Gandhi: 
"Não existe um caminho para a felicidade. A felicidade é o caminho." 
E o nosso caminho se tornaria, enfim, a nossa felicidade!

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