segunda-feira, 1 de junho de 2020

O que podemos fazer?

Diante do momento crítico que vivemos já há algum tempo, uma questão que tem inquietado muitos corações tem sido “O que podemos fazer?”.
Não é algo de hoje, nem decorrente dos últimos acontecimentos e movimentos ou problemas sociais que parecem se intensificar a cada dia, mas certamente pode ser algo que emerge com maior intensidade nesses momentos.
Muita gente talvez ainda não saiba o que fazer ou sinta que não está fazendo nada, mas isso não é verdade.
Hoje o texto "Guia da Resistência Pacífica" indicado para uma tradução me tocou particularmente, pois nele a autora enumera 8 possíveis ações políticas pacíficas no contexto da vitória de Trump nos Estados Unidos, a saber:
1. Protestos pacíficos.
2. Exigir atitudes entrando em contato direto com os representantes que elegeu. 
3. Organizar protestos e mobilizar seus contatos e amigos.
4. Apoiar organizações e instituições de caridade. 
5. Apoiar um jornal ou mídia confiável. 
6. Escolher suas batalhas ao invés perder energia em discussões de facebook ou de reuniões familiares. 
7. Cuidar de si mesmo. 
8. Inspirar-se no passado, com exemplos como os de Gandhi, Luther King, Mandela.
Realmente são excelentes recomendações, com a ressalva, é claro, das possibilidades que o momento exige diante do isolamento social.
Entendo que ao compartilhar essa visão, também estou mobilizando vocês, meus amigos, contatos e eventuais leitores desconhecidos. 
E para além disso tudo, acredito que podemos fazer ainda muito mais, individual e coletivamente.
Quem acompanhou a última reflexão aqui sabe que cada gesto e atitude nossa importa, contudo pensei que poderia exemplificar mais ações que podemos ter hoje, mesmo para quem está em isolamento dentro de casa. E para isso pensei em aproveitar a estrutura da grande lição que fundamenta todo o caminho budista que em resumo diz: 


Assim, seguem algumas possibilidades em cada um desses aspectos.

1. Evitar negatividade.
- Combater fake news. Como?
Conferir os links que nos enviam antes de encaminhar.
Ler e se informar sobre o que foi enviado, sem ler apenas o título do link.
- Filtrar informações. Informação demais satura e perde o sentido e o valor para quem a recebe.
- Não disseminar medo, ansiedade e desespero com informações incompletas, incorretas, ou que trazem apenas problemas sem qualquer propostas de intervenção e solução.
- Não apoiar causas, pessoas e empresas que geram negatividade, que não se importam com a vida. Aqui incluiria a renúncia consciente de produtos, marcas, atividades, serviços e formas de consumo que geram degradação ambiental, social e humana.

2. Gerar positividade.
- Sustentar formas de vida e de produção em que você acredita.
- Valorizar o produtor local e artesanal.
- Preferir, apoiar e divulgar, ações e iniciativas que demonstram preocupação e cuidados com o ser e o viver.
- Participar de uma rede de apoio.
- Auxiliar economicamente alguém ou uma causa que precisa de você.
- Honrar tanto quanto possível com os compromissos assumidos com as pessoas e serviços que contratou.
- Compartilhar informações úteis e textos com conteúdo que podem ajudar as pessoas a formarem suas opiniões de forma emancipadora.
- Apoiar causas sociais, conforme sua condição. Quem pode efetivamente agir com trabalho voluntário, faça. Quem pode ajudar com financiamento, ótimo. Mas mesmo se não puder com nenhum dos dois, ainda é possível divulgar e apoiar boas iniciativas em suas redes de contato. Talvez como eu, mesmo quem não gosta de compartilhar muita coisa nas redes sociais pode curtir, comentar, e incentivar os trabalhos que cuidam da vida. E mesmo quem usa pouco a internet para isso ainda pode eventualmente fazer um pouco de cada uma dessas ações, quando for possível.
- Cuidar dos amigos e pessoas próximas. Eles estão bem? Precisam de ajuda? O simples ato de lembrá-los que alguém se importa com eles pode ser transformador!
- Compartilhar bons exemplos, ações inspiradoras e positivas.

3. Dirigir a própria mente.
- Meditar e gerar liberdade diante dos impulsos.
- Preservar sua saúde mental.
- Cuidar de si para poder cuidar dos outros.

Em suma, acho que tudo isso visa apenas tentar fazer parte da solução e não do problema.
Claro que muitas outras ações podem ser pensadas e incluídas, além disso não é uma receita ou lista definitiva para ninguém. Cada um pode e deve adaptar as sugestões conforme sua realidade e possibilidade. Quem sabe essa estrutura também pode ajudá-los a vislumbrar e/ou desenvolver e aprofundar suas habilidades a partir desses referenciais?
Talvez ainda mais importante que ‘o quê’ exatamente cada um vai fazer, seja a motivação e a dedicação que vamos empregar no sentido do que acreditamos.
Essas são minhas motivações para escrever hoje. Através do caminho budista aprendi que não podemos abrir os olhos dos outro com um alicate, mas podemos abrir nossos próprios olhos e caminhar no sentido que acreditamos.
Quanto mais próximos estivermos do que acreditamos, todo e cada pequeno gesto também estará mais próximos da verdade, e somente assim poderemos ensinar pelas costas, sendo exemplo daquilo que acreditamos, mesmo em um mundo cheio de atropelos.