Political Cycle - Pawel Kuczynski |
Em tempos eleitorais parar pra pensar sobre nossas fixações, convicções e posicionamento político é muito bom.
O assunto muitas vezes é tratado de forma tão passional quanto torcidas de futebol, mas eu acho que poderia ser também levado a um nível diferente, um pouco mais profundo, pois é um ótimo exemplo para perceber o surgimento, a co-emergência de identidades.
Esses dias eu estava observando como toda vez que um candidato aparece no horário eleitoral, surge no mesmo instante um "eleitor interno".
Toda vez que surge aquela figura X ou Y, a gente tem reações imediatas! Uns xingam, se irritam, outros riem, alguns talvez devem até aplaudir.
É muito interessante notar como na hora que surge uma propaganda eleitoral, seja na imagem da TV, no cartaz ou na rádio, surge ao mesmo tempo um eleitor indignado com o candidato A ou B, com as propagandas pela cidade, com a cara do Fulano ou Beltrano, com o jingle chato ou engraçado, com o discurso sempre igual, com as mentiras, etc.
É um fenômeno inegável e muito curioso, e, como disse, um excelente exemplo da co-emergência, ou seja, desse emergir do sujeito, ou da identidade (eleitor), concomitantemente ao objeto (candidato).
Como a política realmente mexe com nossas emoções, talvez isso fique mais óbvio do que no dia a dia, por isso o tema é tão bacana de se usar nessa perspectiva!
Então continuei observando como além do eleitor indignado, brota também o eleitor ouvinte, atento, que tenta entender a posição de um ou outro candidato, analisar quais as opções, e fazer suas escolhas de forma sábia e sensata.
Legal, super importante isso, mas será que são escolhas tão sábias e sensatas assim?
Uma resposta padrão provavelmente seria mais ou menos assim: "A dos outros eu não sei, mas de minha parte eu, como pessoa bem formada e informada certamente não vou escolher o candidato pela cara dele, nem pelo nome, pela cor do partido, pela roupa que usa, ou pelo fato de ser amigo do papagaio do sobrinho do meu cunhado! Eu voto consciente!"
Não é o que a maioria pensa, ou, pelo menos, diz!?
Com esse questionamento meu objetivo não é negar a importância de se informar e discutir questões políticas, o que eu realmente acho super válido e saudável, mas é que tenho minhas dúvidas quanto ao que de fato influencia as escolhas de cada um.
Será que as fazemos de forma ponderada no período eleitoral analisando realmente os candidatos, ou sequer damos chances para alguns e temos pré disposições para gostar de outros?
Pensando nisso, recentemente me indaguei sobre minhas pré concepções políticas, olhando com atenção percebi que, particularmente, essa eleitora que surge contra um ou a favor de outro, depende muito mais desses conceitos prévios e de uma formação interna já construída, do que da figura que aparece para ser avaliada.
E tenho certeza que isso não é exclusividade minha, muito pelo contrário!
Quantas vezes sequer conhecemos os candidatos, nem mesmo as propostas de governo, mas de antemão já simpatizamos ou criamos aversão com este ou aquele porque na nossa formação aprendemos que determinado partido é horrível, que o outro é melhor, que o mundo deve ser assim ou assado?
Às vezes me dá a impressão de que o que fazemos é passar toda a infância e adolescência aprendendo a formar esses pré conceitos para um dia poder decidir com “consciência”, com base em nossas convicções.
Tudo isso para ver centenas de candidatos mudando de partido 1, 2, 3 vezes entre uma eleição e outra! Ou então o partido que você gosta fazendo coligações com outros que você sempre repudiou, ou inúmeros outros exemplos que poderiam se dados para mostrar como criamos fixações ilusórias.
No mínimo irônico não?
Fazendo um exercício bem interessante e importante, ainda podemos nos colocar no lugar do outro eleitor, que aprendeu conceitos diferentes e pensa diferente da gente e vê naquele mesmo político que a gente acha terrível uma excelente opção, ou o contrário, e vê no que nós gostamos, um crápula!
Será que nós estamos certos e eles estão errados?
Nem é necessário ter uma resposta para essa pergunta, é apenas uma provocação, afinal, parar e se perguntar a respeito é uma coisa tão rara que já deveria ser suficiente!
E de fato é, pois quando refletimos sobre tudo isso, dá para tirar pelo menos duas conclusões importantíssimas:
Primeiramente, que o político não está lá na tela ou no cartaz, mas depende muito mais do que há de criação dentro da própria mente e de concepções pessoais!
Em segundo lugar, como a tolerância e compreensão do outro se torna simples e natural quando olhamos e entendemos mais a nós mesmos.
Então, muito mais relevante do que responder à pergunta de quem está certo ou errado, talvez seja, constatar essa sutil e necessária interligação desses mundos que se apresentam como externo e interno.
Com isso dá para se divertir um bocado testando algumas mudanças internas e verificando elas refletirem diretamente na visão do mundo ao redor!
Esse domingo de chuva e véspera de feriado parece ser uma boa oportunidade para começar a olhar a si mesmo e aos outros de uma perspetiva diferente! Que tal?
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