segunda-feira, 27 de abril de 2015

Por que parece que precisamos de tanta coisa pra nos satisfazer?


Há muitas explicações evolutivas, filosóficas ou mesmo psicológicas para a insatisfatoriedade humana, no entanto, apesar de tantas análises e teorias, raramente paramos para observar isso em nosso cotidiano.
Na verdade, parece que vivemos nosso dia a dia com um botão automático de necessidades da modernidade e nem questionamos o tanto que trabalhamos para sustentar não apenas uma sobrevivência digna, mas também nossos consumos, padrões de vida e outras tantas coisas que queremos. Estudar para poder trabalhar em melhores condições e ganhar mais é a regra, com suas raras exceções. 
Além das questões materiais, nossas necessidades modernas também implicam em questões sociais e afetivas, e do mesmo modo queremos interagir bem com o maior número de pessoas possíveis, ter vários amigos, um (ou vários) relacionamento(s) amoroso(s), uma boa companhia para aproveitar o dia, curtir o fim de semana, desfrutar das férias. Isso tudo sem esquecer que ainda queremos ser bons administradores para otimizar o aproveitamento do tempo e fazer muitas coisas agradáveis, caso contrário a velha insatisfação bate à porta.
Pensando sobre isso, eu particularmente achei incrível ver como depositamos nessas e tantas outras coisas externas o poder de movimentar nossa energia!
Olho para meu mundo interno, desejos de diversas ordens, desde as mais banais como comprar um sapato novo, até as mais complexas, como poder encontrar vários amigos com mais frequência, ou procrastinar menos meus afazeres. Olho ao redor e contemplo inúmeros amigos, conhecidos ou até desconhecidos na rua, agindo igualzinho.
Os desejos e a intensidade variam, mas a necessidade de fugir do tédio, mostrar pra todo mundo que se está vivo e curtindo a vida pelo facebook, ou de fazer planos e desabafar sobre as frustrações nas conversas é a mesma.
Precisamos sair, conhecer gente nova, viajar, e fazer coisas diferentes com freqüência, ou seja, estar em constante movimento, físico ou mental.
Se fosse sempre algo positivo talvez não fosse tão ruim, mas o pior é constatar que não é só em coisas boas que depositamos o poder de nos estimular. Para muita gente até mesmo brigar é sinônimo de movimento, ou reclamar da vida própria e dos outros, caso contrário parece que ficam entediadas.
Conhecendo essa nossa constante inquietação, propagandas de produtos esportivos na televisão dizem que não fomos feitos para ficar parados. Algo realmente interessante, afinal liberar endorfina é ótimo. Outras ironizam a calmaria e nos incentivam a viver com emoção, mas que tipo de emoção é essa que tanto buscamos? Aliás, que buscamos e nos frustramos quando o resultado não é bem o que esperávamos.
Não sei se só eu vejo assim, mas às vezes parece que agimos como um bando de baratas tontas correndo para um lado e para o outro sem parar, num ritmo frenético tentando ativar e movimentar nossa energia de forma incansável!
Será que precisamos mesmo de tudo isso para nos sentirmos vivos? Não seria legal poder descansar e relaxar e ficar numa boa, sem medo de ficarmos estagnados, apáticos, ou de perder algo?
Realmente acho que não há uma resposta definitiva para essas perguntas, afinal é ótimo estar em movimento, mas ter que depender de tantas e tantas coisas e circunstâncias para se sentir assim, vivo, ativo, pulsante, parece mais uma prisão, uma obrigação auto-imposta, do que algo positivo.
Felizmente, aos que se sentem cansados de depositar confiança em fontes de energia externas que não controlamos, há uma boa notícia: é possível ser diferente!
Não são poucos os mestres e sábios que falam sobre a liberdade de poder escolher o que e como viver, sem ser levado por impulsos, reações automáticas e necessidades externas. É possível estar bem, independente das condições e circunstâncias, pois no fim e ao cabo esses fatores realmente não são tão determinantes assim.
Há vários exemplos para ilustrar e demonstrar isso. Acho que todo mundo conhece alguém que tem uma vida aparentemente invejável, mas que é infeliz, e não raro nos surpreendemos com pessoas de bem com a vida mesmo vivendo em condições extremamente desfavoráveis e difíceis. Assim como há pessoas vivendo verdadeiros infernos em situações que julgamos paradisíacas, outros, mesmo nas situações mais adversas, conseguem ter um posicionamento positivo e contagiante.
Acho que esses exemplos, que acredito que todos têm na memória, poderiam ser suficientes para nos fazer questionar um pouco mais sobre as coisas que achamos que precisamos para nos satisfazer. Aproveitando a deixa, acho que seria interessante também pensar e treinar a liberdade de lograr uma energia autônoma e não condicionada no dia a dia. 
Acho que vale a pena tentar!
Sem uma natural felicidade interior (uma sensação de alegria, despreocupação e bem-estar que não depende de condições externas, como sua família, amigos, posses ou o clima), nunca seremos verdadeiramente felizes. Vamos desperdiçar nossas vidas correndo atrás disso e daquilo, cheios de excitação por qualquer pessoa ou situação nova. Então sentiremos uma felicidade superficial por um curto momento, que se desfará e nos deixará com uma sensação de vazio novamente, e aí buscaremos alguma outra coisa. Então, para encontrarmos felicidade verdadeira e uma vida satisfatória, primeiro precisamos de uma base incondicional de felicidade” — Kyabgön Phakchok Rinpoche 

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