Eu fico triste ao encontrar
pessoas e manifestações de conhecidos muito diferentes do que eu acredito, fico
chateada mesmo, gero aversão não apenas à opinião ou manifestação, como às
vezes também ao próprio interlocutor, por mais querido que seja, eu confesso,
dá uma decepção no coração...
Por outro lado, quando vejo algo
no mesmo sentido do que eu penso, eu fico feliz, aplaudo, dou apoio!!!
Mas opa, peraí, nem tudo é assim
tão simples.
Hoje cheguei à conclusão de que
isso é só o meu ego querendo se satisfazer, encontrar concordâncias para dizer
que estou certa e que tenho razão!
Mais alguém sente isso
atualmente?
Acho que infelizmente não sou a única! :(
Diante dessa constatação eu comecei
a me questionar: Porque é tão difícil os outros me entenderem? E essa pergunta,
assim como todo pensamento de mão dupla já veio acompanhado com o outro lado da
moeda: Porque é difícil para mim entender os outros?
O que diferencia eu e você? ... O
que somos afinal?
É, eu costumo ir longe com questões aparentemente bem
simples, mas vamos às reflexões do dia...
Eu acredito que nosso ego nada
mais é do que um agregado de pensamentos, sensações, percepções, um misto de
contradições, todos frutos de construções, visões parciais, raciocínios mais ou menos lógicos, no fundo
muito mais ilógicos do que imaginamos ou gostaríamos que fosse!
Numa disputa de ideias pode
parecer que uma é mais certa do que outra, mas será? Será que há apenas uma
certa? Será mesmo que uma pode ser defendida como melhor do que outra? Ou será
que todas podem estar certas, cada uma em seu contexto de formulação?
Eu me questiono tudo isso,
porque, em regra, eu não consigo entender aqueles que eu rotulo como
conservadores, vingativos, raivosos, preconceituosos que têm orgulho disso,
seres que não têm solidariedade social como valor em suas vidas, etc... eu me
questiono isso porque antes também me questionei como é possível que as pessoas
defendam ideais que vão contra elas mesmas?! Como podem aceitar que os EUA
digam o que é democracia no mundo, ou desejar que o outro se ferre ou que as coisas
piorem só pra ter razão, e etc... (muitos etc...)
Bem, na dialética desse
pensamento eu/outro, volto para mim e vejo, um pouquinho de história sempre
elucida muitas coisas, afinal se hoje me identifico com certos ideais, penso
assim ou assado, certamente é porque cresci em um contexto em que me foram
apresentados alguns conceitos, valores, situações e formas de interpretar o
mundo.
Desde pequena fui ensinada pelos
meus pais a não só ver os invisíveis (los
nadies como dizia Galeano), mas também a olhar para eles, e até hoje nenhum
passa despercebido sem deixar marcas em mim, por mais banal que seja a cena,
por mais submisso e indigno que pareça o pedinte, por mais violento e agressivo
que seja o assaltante... outro fator importante na minha concepção de mundo foi
o fato de ser influenciada diretamente pelo meu irmão mais velho e suas lutas
políticas e ideias que em grande parte praticou no movimento estudantil num
contexto de universidades cada vez mais sucateadas.
Depois, estudando direito
na UFPR não passei ilesa pelas aulas de filosofia e fiquei muito atenta às
questões sobre falácias. Ainda mais à frente, finalmente pude ter acesso à
compreensão de porque achava bizarro o direito penal, e a (in)justiça
brasileira, que não fazia o menor sentido, não sem antes conhecer uma visão
crítica do direito penal... e assim fui formando minha opinião. Tendo noções sobre
ideologia também passei a ver que se declarar contra a corrupção em contextos
políticos de cabo de guerra é muito perigoso, pois serve convenientemente para
reificar o discurso dos que perseguem seletivamente apenas alguns (de novo a
visão crítica do direto penal me impede de ver de outra maneira, mas considero
que nem precisava dessa compreensão pra chegar nessa constatação).
Entendendo
um pouco como funcionam as relações de poder, não é de surpreender tantas
coisas que acontecem diante da estrutura montada há muito tempo para manter no
poder aqueles que sempre o tiveram, porém, é meio assustador ver os
desdobramentos concretos disso tudo às vezes.
Enfim, a ideia não é entrar no
mérito de nenhuma dessas questões, e sim apenas demonstrar que assim como os
outros, eu tenho muitas opiniões, formadas ou não, e sinceramente, cada uma
delas poderia gerar tanta conversa que não tenho absolutamente nenhum interesse
de defender nenhuma em confrontos tolos virtuais, mas apenas ilustrar como
essas construções fazem parte da minha forma de ver e interpretar o mundo,
assim como acontece com qualquer outra pessoa!
Ao entender as minhas construções,
naturalmente passo a entender também as do outro, fica mais fácil compreender
que "ele" pensa diferente porque aprendeu diferente, tem outros
valores e outra forma de ver e interpretar o mundo.
Nesse caso é muito
compreensível que premissas diferentes vão resultar em opiniões diferentes não
é mesmo?
Tão bom se pudéssemos respeitar
mais a história e visão de cada um, sem odiar o outro apenas por ser exatamente
o que ele é: o outro!!
De repente a aversão, o ódio, e a
revolta que mencionava no início desse texto já não fazem o menor sentido e, ainda
que minimamente, fica mais fácil aceitar as diferenças.
Quando a raiva foi embora, ficou
apenas a gratidão de ter encontrado alguma sabedoria em meio a tanto lodo!
Espero que eu também não seja a única a sentir isso agora!
Quer tentar fazer esse exercício também? É muito simples, começa olhando honestamente para si mesmo, porque no final não há mesmo tanta diferença entre eu e o outro, e felizmente, não somos apenas o que nosso confuso ego pensa que é!
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