É muito frequente deixarmos de viver e apreciar um momento por inteiro por
estarmos pensando sobre o ontem ou preocupados com o amanhã.
Apesar de tudo o que temos
verdadeiramente ser o aqui e agora, não lhe damos o devido valor.
Na era digital desfrutar
realmente o momento presente é ainda mais raro e subestimado, pois já não é
suficiente que se viva e faça as coisas. Agora é preciso também provar e mostrar
para um sem número de pessoas estranhas o que se está a fazer.
Com apenas alguns toques numa
telinha se compartilha o momento com todas as pessoas do mundo, exceto com quem
realmente está com você.
Todos ficam sabendo onde você
"está" e o que está fazendo, mas será que você realmente está lá? E
afinal, quando estamos publicando nossas atividades e nossos momentos, será que
estamos realmente fazendo aquilo que dizemos estar fazendo?
Não sei, tenho minhas dúvidas e
suspeito que não, porque de uma coisa eu sei, você certamente está presente em
um mundo virtual e publicando algo. Esse é o verdadeiro local para fazer um
"check-in" e a verdadeira atividade que deveria escrever em suas
redes sociais.
É uma coisa meio óbvia que
deixamos de fazer o que estávamos fazendo quando vamos contar ao mundo, mas parece que poucos percebem isso.
No fim, seria talvez mais didático
se toda vez que lemos ou publicamos algo, houvesse um alerta dizendo assim:
Onde se lê “fulano está com
ciclano e beltrano curtindo um sol no parque x”, leia-se “fulano está com seu
celular, na rede social, publicando que foi ao parque com ciclano e beltrano,
ao invés de curtir o momento e o sol”.
Mas talvez eu esteja exagerando...
Dependendo
do que se está fazendo até que esse tipo de coisa não é tão grave assim. Além
disso, pensando bem, pode ser positivo não ter mais dúvidas, e poder ter todas
as respostas acessando o Google, ou não precisar mais lidar com o desconforto
ou o desinteresse de um assunto nas conversas, bastando escapar para um mundo
virtual.
Mas e se forem justamente essas
coisas das quais fugimos, ou outras que facilitamos com a tecnologia aquilo que
faz parte da verdadeira interação social?
O que seria dos debates e das tentativas
de lembrar algo, ou de perguntar algo para alguém, se sempre tivéssemos a
resposta na ponta dos dedos?
Além disso, o que se vê pelo
mundo, é que a tecnologia, ao invés de aliada e benéfica, torna-se cada vez
mais uma espécie de dependência destrutiva da interação real entre os que estão
ali presentes, para dar lugar a uma interação virtual com pessoas que nem
sempre tem o menor interesse no que você está fazendo, exceto para fofocar com outro
alguém.
Então fico pensando, o que
estamos vivendo afinal?
Parece que hoje, se fazemos algo
e não compartilhamos em uma rede social, não processamos aquele momento. Já não o
guardamos na memória, porque só nos lembraremos daquilo de que temos fotos e
registros em algum chip, e não mais no nosso cérebro.
Mas processar e memorizar as
coisas faz parte do que somos, do que nos tornamos.
Somos resultado desse
processo interno de captação das experiências que vivemos. Se aos poucos formos
criando dependência de uma máquina externa para fazer esse processamento, no
que nos tornaremos?
Espero que ainda seja tempo de
alertar:
Você não é o seu perfil na rede social! Sua vida
não é o que você compartilha! Cada momento é único, e se não estiveres atento e
presente, antes que você se de conta, ele já passou.
Como tudo na vida, o segredo é encontrar o ponto de equilíbrio. Não deixar de viver o momento em troca de registrar o momento ou, mais recentemente, compartilhar o registro do momento. Mas também não deixar de registrar. A "memória digital" ajuda nossa memória física que de vez em quando falha e fatalmente se apagará no futuro, e é uma delícia ver as fotos de uma festa, uma viagem, ou de nós mesmos pequenininhos...
ResponderExcluirA sim, eu até ia fazer essa observação, mas acabei esquecendo rs... uma coisa é registar o momento, outra é perdê-lo para que os outros o vejam... já presenciei muitas cenas dessas.
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