Estavam presentes representantes
de todos os poderes, famosos e prestigiosos juristas, figuras marcantes da
atualidade.
E como não podia ser diferente,
muita pompa e estilo enfeitavam o local para bem receber as pessoas que vinham
do país inteiro para lotar o mais importante Teatro da cidade.
Ao primeiro dia do mês de maio,
dia internacional do trabalho, deu-se início ao espetáculo, que se propunha a
discutir os principais temas de Direito (ou de direitos) atuais.
Com a maior glória e fausto que
até então se tinha visto naquele saguão, o local fora enfeitado com reluzentes lustres
de cristal, enormes tapetes negros de tecido requintado, estandes e painéis montados
para melhor divisar os espaços de venda dos produtos e livros.
Na cerimônia de abertura, pessoas
de produção acadêmica e atuação profissional muito respeitável discursavam
sobre temas diversos como democracia, igualdade, direitos fundamentais,
dignidade da pessoa humana, sobretudo sobre os avanços na efetivação da
democracia e expansão de direitos.
Na fala política de um
representante do poder executivo, é lembrado o fim último do Estado e das leis,
que é o ser humano.
Outra respeitável figura fala nos
ideais da democracia, da importante aproximação da casa do povo ao próprio
povo.
Ao longe, da plateia, podia-se
avistar a boa postura dos componentes da majestosa mesa formada por reputados
integrantes de diversas instituições, apenas alguns, um pouco distraídos, utilizavam
seus smartphones vagando para qualquer lugar distante dali.
Terminadas as primeiras
exposições, um vídeo exibe como o evento é a materialização de um sonho de acadêmicos
em aprofundar os estudos, fomentar o debate e promover a qualificação jurídica.
Durante o intervalo, enquanto
muitos desfilavam seus belos trajes, ternos, gravatas, saltos altos, camisas de
seda, muito brilho e ostentação, via-se mais do que roupas, mas também uma
demonstração de status social, típico de um ambiente em que, ao menos na
aparência, seu público é erudito e elitizado.
Alguns avaliavam e compravam
livros dos notáveis conferencistas, para depois pedir um autógrafo. Enquanto isso,
outros preferiam se sentar nos largos sofás de camurça bege colocados no saguão,
nos quais, ainda que lado a lado, cada qual podia, em seu singular mundo
virtual, compartilhar toda aquela magnificência e suntuosidade.
Havia também algumas pessoas mais
interessadas em tirar fotos na frente dos painéis montados com o logotipo do
evento para em suas redes sociais publicar.
Ao olhar pela janela colossal que
toma conta de toda a parte frontal do Teatro, que dá de frente para uma belíssima
praça, via-se a magnífica estrutura, agora restaurada, da áurea Faculdade de
Direito da Universidade Federal do Paraná.
Nada poderia ser mais apropriado
e harmonioso para o momento daquela gélida, porém esplêndida manhã de
quinta-feira.
Tudo estaria perfeito, não fosse
por um pequeno descuido, um lapso de olhar.
Enquanto admirava a bela paisagem
cheia de árvores e flores harmoniosamente posicionadas nos jardins da praça, o
que era uma visão extraordinária e quase que inconcebível para o Centro de uma
cidade, algo estranho fez-se notar.
Naquela praça, atravessando a
rua, havia um ser.
Um ser humano coberto em um edredom ainda dormia ali.
Dormia um ser humano na grama da
Praça, em frente ao Teatro onde com majestade se discutiam seus direitos e sua
dignidade...
Às vezes a gente vê o que não era para ver, o que ninguém mais vê.
Às vezes a gente vê o que não era para ver, o que ninguém mais vê.
É Juliana, nos lapsos (de olhar ou da palavra) as contradições aparecem. Bela reflexão que vc escreve. Enquanto lia, esperava o tempo todo: onde vai aparecer a contradição? Onde vamos nos encontrar com o oculto? Onde é que o furo vai aparecer, nesta roupagem cheia de pompas? Eis que apareceu num lapso de olhar...quem nem todos puderam captar, de tão fechados em si mesmos (imagino que talvez só uma pessoa tenha captado). Parabéns pelos seus textos...estou lendo um a um e me vendo em vc. Enfim, somos todos um só...uns representam as aparências, outros o que precisa ser recalcado/deixado de fora...
ResponderExcluirPois é Deia, e como você mesma viu, às vezes é tão oculto mesmo que parece ser um mero detalhe esse que fica a maior parte do tempo "de fora"...
Excluir