sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Retrospectivas e Aspirações

Catrin Welz-Stein
      Estava pensando em um texto para postar aqui este mês. Considerando a época de fim de ano, festas e comemorações, e o momento propício para fazer uma retrospectiva do ano que passou e projeções para o futuro, me coloquei a pensar o que eu gostaria de escrever que pudesse representar e expressar de alguma maneira as sensações que tive ao começar a publicar e compartilhar algumas reflexões pessoais em um blog.
        O amadurecimento de algumas ideias e do gosto pela escrita, o aprofundar de certas questões e o despertar de uma atenção diferente ao mundo literário são algumas das coisas significativas que acredito terem sido propiciadas por essa experiência.
   Nesse período, algumas pessoas me perguntaram o que me motiva, questionaram sobre o processo de elaboração de um texto, o tempo dedicado, a criatividade, a inspiração. Por mais que para alguns possa parecer algo complexo, ao menos para mim é algo que simplesmente passa pela cabeça e parece pedir para ir pro papel (ou para a tela do computador).
    Muitas vezes são divagações, confusões ou meras reflexões que acabam virando texto justamente pela vontade de organizar as ideias e tentar entender a mim mesma. Em outros momentos são conclusões que parecem boas demais para guardar numa caixinha dentro de mim e que penso valer a pena compartilhar. 
     Tudo isso, na verdade, quase todo mundo faz diariamente nos encontros e conversas com os amigos, mas por gostar das palavras, do texto, de ler, um dia ficou uma pergunta: - Por que não aproveitar também esse canal que nos permite interagir de outra maneira com o mundo, ou vários mundos até mesmo desconhecidos?
     O texto publicado permite o acesso e a leitura de inúmeras pessoas que, mesmo desconhecidas e distantes, podem se interessar pelo que está sendo dito, com um alcance que vai além da presença física.
       Parar pra pensar nisso foi super instigante, porque nunca sabemos quem vai ler, e aí mora uma certa magia. Pode ser que as pessoas mais próximas nem se interessem, e ao mesmo tempo pessoas impensadas comentam sobre um tema abordado ou algo que foi escrito. É realmente uma experiência interessante!
        Recentemente li alguns textos antigos e percebi que em mais de uma vez eu divagava sobre a arte de escrever, de se expressar, de difundir ideias. No meio disso tudo estava explícita uma boa dose de gratidão de, em um mundo tão desigual e contraditório, ter tido a oportunidade de aprender a ler e escrever, compreender e interpretar o mundo, e, de alguma maneira, poder organizar e transformar isso em palavras.
        Em diversos momentos também estava presente o questionamentos de se um dia conseguiria produzir algo útil ou interessante, se já não havia gente demais escrevendo por aí.
     Por outro lado, sem muita pretensão, e com bastante humildade, havia a aspiração de poder transmitir algumas coisas para além do meu mundinho particular, usar minhas capacidades e habilidades e contribuir, ainda que minimamente, ao mundo que me cercava.
    Acho que por isso, com a motivação correta em mente, os medos e inseguranças acabaram inexoravelmente abrindo espaço à experimentação e à aventura de publicar alguns pensamentos.
       Refletindo sobre tudo isso e tentando evitar que o momento passasse batido, resolvi simplesmente colocar em palavras o que me foi ocorrendo. Disso surgiu algo parecido com um poema, palavras e versos livres que quando li ao final realmente parecem representar parte do que o ato de escrever representa para mim:

Desagua, 
No papel
o rio interior.
Emoção fluida,
pensamento transformado
em harmonia e poesia.

Desaba,
Chuva cai do céu.
Gotas de frescor
tocam sinfonia,
em folhas e flores
molham a terra da magia.

Palavras,
Brotam do coração,
Encontram a calmaria
o lago da alegria
da paz superior.

     Enfim, acho que é isso, o texto escrito, daquilo que é vivido, pensado e sentido, é uma maneira de desaguar no papel, se desfazer num momento, para logo em seguida se reconstruir em palavras que brotam espontaneamente para encontrar uma paz maior.
    Espero que aqueles que acessam esse modesto e iniciante blog tenham ao menos em algum momento se identificado e despertado algo bom e positivo durante esse período!
     Agradeço à atenção, aos comentários, incentivo, interesse e compartilhamentos.
     Fiquei muito contente com o resultado, algo realmente marcante para mim neste ano que passou, e espero poder dar continuidade com maior dedicação e frequência em 2015!
     E que todos possam encontrar o que lhes proporciona essa paz superior que eu, particulamente, descobri na escrita.

domingo, 30 de novembro de 2014

Somos interação, interligação, interdependência.


Recentemente comecei a ler o livro "O cérebro do Buda" de Rick Hanson e Richard Mendius, um neurologista e o outro neuropsicólogo. O livro pretende abordar algumas descobertas da neurociência sobre a possibilidade de transformarmos o nosso próprio cérebro e as nossas conexões neurais através de práticas cotidianas para alcançar maior bem estar e qualidade de vida.
Dentre as principais práticas estudadas pela neurociência que têm gerado resultados bastante interessantes estão as práticas contemplativas e de meditação. Apesar de conhecer algo da meditação pela tradição budista no âmbito espiritual, achei muito interessante a abordagem razoavelmente leiga que eles fazem para explicar certos assuntos, e fiquei muito surpresa com alguns dados fornecidos no livro que de alguma maneira confirmam um dos pilares dos quais parte a visão espiritual, de que todos os seres e todos os fenômenos estão interligados.
Uma das coisas que me chamou especial atenção foi a informação de que no nosso cérebro temos mais de 100 bilhões de neurônios que realizam cerca de 5.000 conexões cada, sendo que o número de combinações possíveis entre os neurônios é muito maior do que o número de átomos no universo.
Isso significa que o número de formas mentais e interações que realizamos com o próprio corpo e o mundo é significativamente maior do que o próprio mundo em si. Pensando nisso algumas expressões como “infinito particular” fizeram muito sentido. Já o termo “mundinho particular” na verdade deveria ser chamado de “super-cosmos” particular! 
Para muitos a interdependência de tudo não é novidade, afinal, todos habitamos o mesmo planeta e fazemos parte do mesmo universo. Entretanto, ainda que a gente possa entender isso teoricamente, nossa capacidade de abstração extremamente limitada nos leva a esquecer frequentemente dessa realidade. Por isso, nem sempre consideramos as possíveis consequências de nossas ações e pensamentos, e às vezes estamos tão auto-centrados que sequer cogitamos a amplitude dessa constatação e conseguimos incrivelmente nos sentir sozinhos no meio de multidões e enxergar fatos como situações isoladas.
Esse tema também é abordado pela teoria do caos. Para quem nunca ouviu falar dessa teoria, ela poderia ser explicada, muito simplificadamente, como a ideia de que em um sistema complexo e dinâmico, a própria inconstância da natureza e suas inúmeras variáveis, por mais ínfimas que sejam de início, no final podem afetar significativamente um estudo gerando desvios imprevisíveis e resultados aleatórios. É dessa teoria que decorre o famoso efeito borboleta pelo qual se diz que "o bater de asas de uma borboleta em Tóquio pode provocar um furacão em Nova Iorque".
Pensando nisso tudo, e em como faz parte do conceito de vida a troca de substâncias e energia com o meio ambiente, considerando que somos seres vivos em constante interação, é assombroso imaginar todas as conexões que realizamos, tanto com objetos internos da mente quanto externos do mundo.
Disso resulta que faz parte da nossa mente e do nosso “super-cosmos particular”, não apenas nossas sensações, pensamentos, sentimentos, desejos, etc., mas também todas as relações “externas” que temos com a linguagem, a cultura, ações, reações, o mundo natural, o próprio corpo, cérebro, e mais, a própria mente!
Não é incrível?!
Desde nossa formação física, que nada mais é do que poeira cósmica, como poeticamente bem definiu Carl Sagan, produto de explosões estelares e da intensa interação entre corpos celestes, até nossa complexa e ilimitada mente, nada mais somos do que um conjunto de relações com nosso entorno, interligação, interconexão, interdependência.
Aprofundar essa ideia por si só já dá bastante margem para inúmeros questionamentos e reflexões, dentre as quais, a da responsabilidade, e consequentemente a liberdade, que temos de nos inventar e reinventar a cada interação. 
Conforme dito no livro, inúmeras práticas permitem transformações e melhorias das relações que experenciamos, seja no âmbito fisiológico, do cérebro e dos circuitos neurais, que podem tanto ser transitórios quanto reforçados por padrões e hábitos, mas ainda assim mutáveis, seja no sentido inverso, utilizando-se das mudanças da mente para modificar o cérebro.
Pensando dessa maneira, realmente parece que nada poderia casar melhor com a neurociência, que estuda as funções neurais fundamentais, de regulação, aprendizado e seleção que fazemos, do que as práticas contemplativas e de meditação, que em última instância nada mais são do que formas de acalmar nossas emoções e confusões para enfim enxergarmos nossa verdadeira natureza interdependente e inseparável, não sem antes causar diversos efeitos colaterais como a redução de níveis de ansiedade, stress, entre outras emoções perturbadoras, e até pensamentos negativos, ao modificar nossos padrões de pensamentos por tabela.
Cientes de tudo isso, fica a pergunta inevitável: Como temos realizado nossas relações? Com o nosso entorno, com os demais seres, com nossos conhecidos ou desconhecidos, (pouco importa)... será que estamos criando boas conexões, bons relacionamentos? 
Nossa tendência é de se afastar das pessoas, gerar má vontade, raiva, aversões, machucar, ainda que inadvertidamente seres ao redor, ou estamos trabalhamos para modificar esses padrões e criar algo mais favorável?
Sabendo que quanto mais próximos os seres de nosso convívio, mais responsáveis somos, vale lembrar, por fim, uma das mais belas lições de Antoine Exupéry, de que “nos tornamos eternamente responsáveis pelo que cativamos”! 
        E então, o que estamos cativando, ou no que estamos nos tornando?

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Não podemos tolerar a intolerância




Certamente este ano não foi a primeira, e nem será a última vez, que ao final de uma disputa eleitoral nos deparamos com as mais diversas manifestações de contentamento e/ou insatisfação com o resultado.

Lembro bem quando em 2002 o presidente Lula foi eleito pela primeira vez. Não faltaram comentários preconceituosos e de discriminação sobre seu suposto déficit educacional, que ainda são reproduzidos até hoje, como se o único aprendizado possível fosse o da escola.

Quiséramos isso fosse verdade e que a formação escolar bastasse para acabar com a falta de educação e ideias nocivas sobre a vida e a sociedade! Se assim o fosse, provavelmente não veríamos tantos graduados, pós-graduados, cultos e intelectuais falando tanta besteira por aí!

Quem dera as coisas mais importantes da vida realmente pudessem ser aprendidas em livros e manuais! Provavelmente seria bem mais fácil viver e aprender, mas, como bem disse Cora Coralina: “O saber a gente aprende com os mestres e os livros. A sabedoria, se aprende com a vida e com os humildes”, e infelizmente, nem todos aqueles que crescem intelectualmente desenvolvem inteligência emocional e acumulam sabedoria.

A julgar pelo que vemos não só nos jornais, mas também em nossas “timelines”, poucos conseguem refletir, processar as informações e filtrá-las.

Realizar tais tarefas demanda algum amadurecimento emocional e psíquico, mas, lamentavelmente, parece que nem todos têm feito as lições de casa da vida.

Por conta disso, muita gente, esquecendo da responsabilidade que se tem por cada ato e palavra, acabou agredindo e hostilizado amigos e pessoas próximas, mesmo “sem querer”.

Isso demonstra como muitos ainda estão na primeira infância no quesito da inteligência emocional. A maioria das declarações pós-eleições é simbólica para demonstrar a forma que alguns possuem de lidar com as adversidades.

A inabilidade de lidar com os contratempos levou várias pessoas insatisfeitas a culpar os “outros” por seu fracasso. (O que é feito constantemente não só na política, mas em diversas outras questões da vida).

Vendo dessa forma não deveria surpreender tantos discursos de ódio a determinados setores da sociedade, ou àqueles que pensam diferente. Afinal, para essas pessoas, os “outros” não podem pensar diferente de “mim”, EU, senhor da verdade e da sabedoria, caso contrário, serão rotulados de burros, idiotas e babacas. O “outro” não pode votar em um candidato que eu não aprovo, porque se for assim eu digo que foi voto de cabresto, por interesses pessoais escusos ou ignorância, não sabem votar.

Nessa lógica, não resta mesmo alternativa àqueles que ainda não aprenderam a regular e separar suas emoções, nem a realizar um filtro e desenvolver o próprio controle inibitório, senão hostilizar e diminuir o “outro”.

Realmente não era de se estranhar algumas declarações vindo de pessoas imaturas, mas feliz ou infelizmente, vindo de quem veio surpreendeu!

Surpreendeu porque não imaginávamos quão imaturas eram algumas pessoas. Surpreendeu porque temos pessoas muito queridas que também enfrentam dificuldades por serem diferentes, que também sabem que é importante respeitar os demais e aprender a conviver com a diversidade. Surpreendeu porque no meio dessas pessoas temos muitos amigos que também querem ser respeitados por sua condição econômica, racial ou sexual. Conhecidos que sabem quão importante é a tolerância e o respeito às diversas nacionalidades e origens culturais e sociais.

Então o que aconteceu com estas pessoas?

Será que foram tomadas pelo “efeito manada” e se deixaram levar por alguns impulsos e descontentamento sem refletir?

Pode até ser, mas nem por isso podemos ficar calados e não nos horrorizar diante de certas manifestações, cuja total falta de respeito, de tolerância e acima de tudo de civilidade e espírito democrático foram assustadoras!!

É realmente triste ver pessoas queridas que sofrem ou podem sofrer preconceito por serem “diferentes” apoiando visões de mundo intolerantes, numa raiva cega porque seu candidato perdeu uma disputa eleitoral.

Aparentemente, alguns demonstraram que o discurso da compreensão e respeito só é válido quando é em relação a “mim”. Quando “eu” quero o respeito dos outros, quando meu irmão é deficiente físico, quando alguém da minha família tem algum distúrbio mental, quando meu primo é bipolar, quando meu parente tem síndrome de down ou é autista, quando meu avô sofre de alzheimer, quando o meu amigo negro, o meu empregado pobre ou o meu parente homossexual é discriminado...

Essa não parece ser uma atitude muito coerente não é? E esse é o grande problema da hipocrisia, evidenciada nos discursos de ódio proferidos por alguns colegas, expondo ideais do tipo: Enquanto eu estou ganhando, valem as regras do jogo, mas se eu perco, não quero mais jogar, vamos pedir o Impeachment do candidato eleito, vamos chamar a tropa de choque, os militares, destruir tudo, dividir o país, etc.

Por quê? Porque eu não posso perder!

É medonho imaginar que por não conseguir aceitar a derrota, muitos preferem extirpar todos os direitos e garantias da democracia para simplesmente vencer, valendo-se até mesmo de clamores a um golpe militar.

É como se estivessem dizendo: Tenho que ganhar a qualquer custo, acima da vontade da maioria, acima da democracia, acima da unidade do território nacional, tenho que ganhar acima de tudo e de todos.

Se por ventura um dia sofrermos novamente um golpe de Estado seria bom lembrar que muitos pediram por isso, e vergonha é pouco para expressar o que sinto sobre esse tipo de manifestação, essa sim extremamente ignorante, porque ignora toda a história e sofrimento vivenciados no período de regime militar não apenas no Brasil, mas no mundo inteiro!

Já pensou se realmente estas pessoas tivessem o poder em suas mãos?

Nessas horas, fica ainda mais evidente como apesar de todas as dificuldades que enfrentamos, logramos avanços civilizatórios significativos que culminaram na democracia que temos hoje, e que mesmo não sendo perfeita, é a nossa maior conquista!

E felizmente, democracia não é o que os perdedores recalcados querem que seja, nem propriedade de alguns.

Na última semana, ouvi relatos de inúmeras pessoas reclamando de ter que deletar amigos do Facebook porque se tornou insuportável a quantidade de desaforos e ofensas proferidas, inviabilizando o diálogo. Eu mesma optei por desfazer algumas conexões virtuais de pessoas que mal conhecia e achei desprezíveis.

Diante de tão insólito cenário, passei alguns dias pensando sobre até que ponto temos que aprender a lidar com nossas aversões e a aceitar o outro apesar de não concordar com seus pensamentos. Passei por um processo dialético incessante entre a tolerância e a aversão a certas atitudes que parecia não ter solução.

De um lado, ao pregar a tolerância, aparentemente teria que tolerar até mesmo estes discursos infames, do outro, o receio em cair no mesmo senso comum de aversão e negação do "outro" me incomodava.

Depois de sopesar bastante essas questões, cheguei à conclusão de que por mais que seja necessário e salutar nós aceitarmos o “outro”, o diferente, toda tolerância tem limites e realmente não dá para tolerar a intolerância!

Não dá para ser condescendente quando o “outro” quer impor sua visão individualista e autoritária, sob pena de justamente dar espaço à negação da diversidade. Não dá para se coadunar e ficar passivo quanto a certas manifestações de ódio e intolerância difundidas aos quatro ventos.

A história já demonstrou a relação direta entre a disseminação do discurso da intolerância e diversos massacres, holocaustos e atentados aos direitos humanos, no sentido de aniquilar o “outro”.

Muitos, buscando amenizar e/ou justificar seus absurdos chegaram a afirmar que algumas declarações foram apenas brincadeira.

Pode ser uma tentativa de escapar da responsabilidade pelo resultado de suas ações impensadas, mas não dá para aceitar certas brincadeiras que são, no mínimo, de mau gosto.

Que tal se disséssemos a todos os nossos negros e índios que o racismo é apenas brincadeira, ou falássemos às nossas mulheres vitimadas diuturnamente que o machismo é só galhofa, ou aos gays, lésbicas e trans que morrem por preconceito que as piadinhas são só gozação?!

Acho que não dá né?

Penso que um pouco de reflexão acerca do tipo de ideário que permite o desenrolar de processos que culminam em tristes momentos como o que se viu na Alemanha nazista, ou que vemos ainda hoje em Israel, na Síria, e tantos outros países, é fundamental.

Pode não ser tão fácil assim assimilar e conviver com as diferenças e criar um mínimo de senso de respeito e aceitação do outro, mas é algo essencial, sob pena de retrocesso e perda de nossas maiores conquistas civilizatórias.

Liberdade de expressão, assim como todo e qualquer direito também tem limites. Por mais que seja necessário nos esforçarmos para aceitar as opiniões que desprezamos, é preciso ter cuidado para também não sermos cúmplices de atrocidades por omissão.

Assim, por não aceitar passivamente a conduta das pessoas que apóiam a polidez apenas quando estão vencendo, mas querem impor sua lógica do tudo ou nada quando derrotados, resolvi escrever.

E por acreditar na possibilidade da lucidez se sobressair frente ao obscurecimento é que escrevo e chamo todos os meus amigos, independentemente de seus posicionamentos políticos, para uma reflexão sobre o tema.

Em momentos como este, as pessoas podem expressar o pior e o melhor de si, então, ao invés de responder com mais baixaria, tentemos sempre com respeito e com a motivação correta, de beneficiar aqueles que acreditamos estar submersos em ignorância e negatividade, despertar e estimular o que há de melhor em cada um ao nosso redor.

Quem sabe assim, relembrando que somos seres sociais e somente logramos êxito em nossa evolução por juntarmos nossos esforços, ao ressaltar o nosso espírito de comunidade e união, que em última instância é o que nos faz verdadeiramente felizes, possamos alcançar minimamente um pouco de paz em nossas consciências e em nossos corações.

domingo, 19 de outubro de 2014

Já temos tudo o que precisamos









Outro dia eu estava caminhando quando vi alguns passarinhos voando e percebi como o ninho deles geralmente é escondido no meio das folhas e galhos das árvores e raramente conseguimos ver. Exceção é o ninho do joão-de-barro, que é uma casinha linda e super bem construída. 


Vendo a casa do joão-de-barro na outra árvore, me pus a pensar nos esforços que o passarinho tem que fazer para carregar pouco a pouco o barro para construir a casa dele.

Então comecei a imaginar como seria difícil nossa vida se fôssemos como os passarinhos e tivéssemos que construir a nossa própria casa, pouco a pouco, com o esforço individual. Carregar todos os tijolos, todas as telhas, piso, cimento, barro, madeira, estrutura.

Não é incrível tudo que conseguimos conquistar enquanto seres sociais, a troca de experiências e de habilidades, os confortos, os esforços que deixamos de fazer porque criamos máquinas e instrumentos para nos auxiliar?

Certamente pouco disso haveria se tivéssemos que fazer tudo sozinhos!

Além disso, como é bacana a vida em sociedade em que cada um tem uma função e uma atividade, e que em conjunto tornam possível a vida em larga escala e em grandes cidades. Assim como as abelhas e formigas têm suas funções diferenciadas e uma organização que permitem que vivam numa mesma colméia ou formigueiro.

Ao mesmo tempo, parece estranho pensar que vivemos em sociedade, com máquinas, indústrias, etc, e ainda assim trabalhamos tanto. Penso que poderíamos trabalhar bem menos do que trabalhamos hoje. Temos condições materiais mais do que suficientes para trabalhar não mais do que 4 horas por dia. Então qual o problema?

Claro que há inúmeros motivos políticos, econômicos e culturais para que se evite a redução da jornada de trabalho, mas na minha opinião, nada justifica a manutenção da escala de trabalho atual, e enquanto esta não for reduzida, continuarei achando esse sistema ilógico e irracional.

Por outro lado, questiono de que nos serviria uma redução do trabalho... afinal nada garante que com isso lograríamos maior satisfação e felicidade.

Há pouco mais de um século trabalhávamos 16 horas por dia, e hoje, mesmo trabalhando a metade desse período, ainda sentimos que não temos tempo. 

Criamos a TV e a internet, onde passamos horas a toa, e também fomos criando problemas e ocupações que não existiam antes. 

Mesmo tendo inúmeras mordomias e confortos, água encanada, luz, abrigo, alimentos abundantes, etc, ainda não somos felizes porque sempre queremos mais...

E não tem nada de errado em querer sempre mais, afinal, essa é uma característica que nos faz humanos.

A própria psicologia evolutiva explica isso, pois geramos impulsos elétricos de prazer quando conseguimos algo que queremos, no entanto, esses impulsos não se prolongam no tempo. Então, para obter a mesma sensação novamente, buscamos sempre algo para manter esses impulsos, essas sensações.

Caso contrário, se ficássemos satisfeitos e saciados por muito tempo depois da primeira experiência de sucesso, deixaríamos de buscar novas experiências, colocando em risco nossa própria sobrevivência, levando a problemas relativos à fome, sede, reprodução, etc.

Por muito tempo eu pensei que grande parte da culpa de nossa insatisfação era diretamente relacionada aos ideais capitalistas, em que somos vítimas de um bombardeio incessante de propagandas, incentivos de consumismo e práticas absurdas como a obsolescência programada.

Entretanto, ao entender um pouco mais sobre como somos, percebi que apesar de haver realmente muita influência para que continuemos consumindo, nem toda insatisfatoriedade é decorrente dos incentivos e influências para querer mais, esse é apenas um reflexo de como já somos. 

Não é necessário fazer nenhum esforço para manter a insatisfação em alta e generalizada, é algo que já temos dentro de nós, por isso é tão fácil instigar as pessoas a querer e consumir mais. 

Por outro lado, não é feito quase nenhum esforço no sentido contrário, para incentivar as pessoas a se sentirem bem com o que elas têm e, principalmente, pelo que são! Afinal, se estivermos muito satisfeitos, precisaremos de menos coisas, o que é ruim para o capital.

Aliás essa frase ouvi em um filme: 

“A verdadeira felicidade é muito ruim para as vendas.”

E é aí que mora o problema.

O problema está justamente nos artifícios que criamos e nas falsas felicidades que são vendidas diariamente.

Ao entender a nossa insatisfatoriedade, ao invés de aprender e ensinar como lidar com isso, a maioria das pessoas faz justamente o contrário, se aproveita dessa nossa condição para criar necessidades e vender mais produtos, mais sonhos e mais ideais.

Com isso, um dos maiores equívocos do “se eu tiver isso, eu serei mais feliz” é reafirmado a cada outdoor, a cada propaganda, a cada marca, a cada instante.

E o mais incrível é que mesmo depois de ter várias vezes, inúmeras dessas coisas que “vão nos deixar mais felizes” sem necessariamente conseguirmos realizar essa “felicidade”, a gente ainda assim continua acreditando, e poucas pessoas realmente param pra pensar e suspeitam que algo está errado.

Ficamos como baratas tontas correndo para todos os lados buscando uma maneira de saciar nossa insatisfatoriedade, mas nunca conseguimos por muito tempo. Logo a gratidão e alegria por conseguir algo se perde, e começamos novamente a achar que precisamos de um celular mais novo, um carro maior e mais potente, uma bicicleta, uma casa, um emprego, um salário, um país, uma gaiola vida melhor! 

Tudo pode ser sempre melhor! 

E mesmo que assim não fosse, há sempre algo que nos falta, seja material ou mesmo sentimental e emocional.

Quantas carências afetivas, de atenção, carinho, amizades, relacionamento amoroso, enfim, milhares de necessidades existem, mesmo fora do ambiente capitalista?!

Por mais ricos que a gente seja, nunca teremos tudo que há no mundo. Por mais populares, nunca conheceremos todas as pessoas nem seremos amigos de todos, e por mais viajados, nunca conheceremos todos os lugares.

No entanto, olhando para tudo isso, mesmo sabendo que essa é a nossa condição humana, ao invés de ficar criando produtos e artifícios para tentar tapar esses abismos insaciáveis que temos, penso ser possível superar boa parte dessa sensação de falta, insatisfação, e busca incessante de algo mais, com liberdade, e não com mais aprisionamento a mais coisas.

Quando entendemos esse mecanismo, nos damos conta de que parecemos ratinhos de laboratório correndo naquelas rodinhas de gaiola sem ter para onde ir. 

Se reduzirmos um pouco a velocidade da nossa exaustiva e incessante corrida, talvez a gente possa perceber como estávamos correndo há tempos, sem parar, mas também sem chegar a lugar nenhum.

Uma constatação que pode não ser fácil de fazer, mas que é extremamente importante e libertadora, afinal, deixamos de dar tanta importância para a corrida e a roda, e percebemos que podemos fazer algo diferente para variar!

Para quem não quer ver ou não se incomoda em estar em uma roda dentro de uma gaiola, tudo bem, mas para quem já as percebeu a notícia é boa: Há uma saída!

E eu ainda diria mais: suspeito que quando pararmos mesmo de correr, e sairmos da rodinha, finalmente poderemos perceberemos que as portas da gaiola sempre estiveram abertas!

domingo, 7 de setembro de 2014

Escolhas políticas

Political Cycle - Pawel Kuczynski
Em tempos eleitorais parar pra pensar sobre nossas fixações, convicções e posicionamento político é muito bom.

O assunto muitas vezes é tratado de forma tão passional quanto torcidas de futebol, mas eu acho que poderia ser também levado a um nível diferente, um pouco mais profundo, pois é um ótimo exemplo para perceber o surgimento, a co-emergência de identidades.

Esses dias eu estava observando como toda vez que um candidato aparece no horário eleitoral, surge no mesmo instante um "eleitor interno".

Toda vez que surge aquela figura X ou Y, a gente tem reações imediatas! Uns xingam, se irritam, outros riem, alguns talvez devem até aplaudir.

É muito interessante notar como na hora que surge uma propaganda eleitoral, seja na imagem da TV, no cartaz ou na rádio, surge ao mesmo tempo um eleitor indignado com o candidato A ou B, com as propagandas pela cidade, com a cara do Fulano ou Beltrano, com o jingle chato ou engraçado, com o discurso sempre igual, com as mentiras, etc.

É um fenômeno inegável e muito curioso, e, como disse, um excelente exemplo da co-emergência, ou seja, desse emergir do sujeito, ou da identidade (eleitor), concomitantemente ao objeto (candidato).

Como a política realmente mexe com nossas emoções, talvez isso fique mais óbvio do que no dia a dia, por isso o tema é tão bacana de se usar nessa perspectiva!

Então continuei observando como além do eleitor indignado, brota também o eleitor ouvinte, atento, que tenta entender a posição de um ou outro candidato, analisar quais as opções, e fazer suas escolhas de forma sábia e sensata.

Legal, super importante isso, mas será que são escolhas tão sábias e sensatas assim?

Uma resposta padrão provavelmente seria mais ou menos assim: "A dos outros eu não sei, mas de minha parte eu, como pessoa bem formada e informada certamente não vou escolher o candidato pela cara dele, nem pelo nome, pela cor do partido, pela roupa que usa, ou pelo fato de ser amigo do papagaio do sobrinho do meu cunhado! Eu voto consciente!"

Não é o que a maioria pensa, ou, pelo menos, diz!?

Com esse questionamento meu objetivo não é negar a importância de se informar e discutir questões políticas, o que eu realmente acho super válido e saudável, mas é que tenho minhas dúvidas quanto ao que de fato influencia as escolhas de cada um.

Será que as fazemos de forma ponderada no período eleitoral analisando realmente os candidatos, ou sequer damos chances para alguns e temos pré disposições para gostar de outros?

Pensando nisso, recentemente me indaguei sobre minhas pré concepções políticas, olhando com atenção percebi que, particularmente, essa eleitora que surge contra um ou a favor de outro, depende muito mais desses conceitos prévios e de uma formação interna já construída, do que da figura que aparece para ser avaliada.

E tenho certeza que isso não é exclusividade minha, muito pelo contrário!

Quantas vezes sequer conhecemos os candidatos, nem mesmo as propostas de governo, mas de antemão já simpatizamos ou criamos aversão com este ou aquele porque na nossa formação aprendemos que determinado partido é horrível, que o outro é melhor, que o mundo deve ser assim ou assado?

Às vezes me dá a impressão de que o que fazemos é passar toda a infância e adolescência aprendendo a formar esses pré conceitos para um dia poder decidir com “consciência”, com base em nossas convicções.

Tudo isso para ver centenas de candidatos mudando de partido 1, 2, 3 vezes entre uma eleição e outra! Ou então o partido que você gosta fazendo coligações com outros que você sempre repudiou, ou inúmeros outros exemplos que poderiam se dados para mostrar como criamos fixações ilusórias.

No mínimo irônico não?

Fazendo um exercício bem interessante e importante, ainda podemos nos colocar no lugar do outro eleitor, que aprendeu conceitos diferentes e pensa diferente da gente e vê naquele mesmo político que a gente acha terrível uma excelente opção, ou o contrário, e vê no que nós gostamos, um crápula!

Será que nós estamos certos e eles estão errados?

Nem é necessário ter uma resposta para essa pergunta, é apenas uma provocação, afinal, parar e se perguntar a respeito é uma coisa tão rara que já deveria ser suficiente!
E de fato é, pois quando refletimos sobre tudo isso, dá para tirar pelo menos duas conclusões importantíssimas:

Primeiramente, que o político não está lá na tela ou no cartaz, mas depende muito mais do que há de criação dentro da própria mente e de concepções pessoais!

Em segundo lugar, como a tolerância e compreensão do outro se torna simples e natural quando olhamos e entendemos mais a nós mesmos.

Então, muito mais relevante do que responder à pergunta de quem está certo ou errado, talvez seja, constatar essa sutil e necessária interligação desses mundos que se apresentam como externo e interno. 

Com isso dá para se divertir um bocado testando algumas mudanças internas e verificando elas refletirem diretamente na visão do mundo ao redor!

Esse domingo de chuva e véspera de feriado parece ser uma boa oportunidade para começar a olhar a si mesmo e aos outros de uma perspetiva diferente! Que tal?

sábado, 16 de agosto de 2014

A impermanência

    Praticamente todos os dias, ou, pelo menos, toda semana nas redes sociais alguém presta uma homenagem ou comenta o falecimento de algum escritor, artista, ator, político, ativista, ou entes queridos, professores, colegas, familiares, amigos.
    Ultimamente, principalmente!
    Algo tão frequente, normal e natural que eu acho curioso como ainda assim insistimos em evitar olhar e pensar sobre o inevitável, sobre a impermanência da vida, e seguimos negando, consciente ou inconscientemente, a natureza peremptória das coisas. 

   
   
   Achamos sempre que temos tempo. Planejamos nosso futuro, e não vivemos como se não houvesse amanhã.
    Esquecemos da morte e vamos nos fixando e nos apegando a coisas mesquinhas, objetos de consumo, acumulando bens, desafetos, intrigas, rancores, e nos fechando em mundinhos particulares. 
   Incrivelmente, apesar de toda frase de efeito que surge quando algum caso inesperado ocorre atestando a fragilidade da vida, de que para morrer basta estar vivo, sempre nos assustamos e somos pegos de surpresa quando recebemos a notícia de que alguém se foi. 
  A morte é a única certeza que temos, como dizem, e ainda assim nos assombramos, nos chocamos, e temos grande dificuldade de aceitá-la quando ocorre perto de nós.
    Por quê? 
    Por que não queremos enfrentar esse tema?
    Frequentemente passo em frente ao cemitério no caminho para casa ou para o trabalho e para mim é inevitável reparar nos túmulos ou prédios visíveis para fora dos muros e pensar a respeito. (Também me fazem pensar em como nossa sociedade é estranha, em que muitos corpos apodrecendo ou já há muito decompostos têm uma "casa" e proteção maior e melhor do que famílias inteiras... mas enfim, isso já é outro assunto)
    Outro dia fui à exposição de fotos da Frida Kahlo no museu e lá estava eu refletindo sobre a efemeridade da vida novamente... havia muitas fotos dela, de seus amores, familiares e amigos, e fiquei ali pensando como deveria ser a vida naquela época não tão distante, de todas aquelas pessoas retratadas, que hoje já são falecidas. 
    Disso surgiu uma constatação realmente interessante ao pensar que daqui 100 anos, provavelmente todas as pessoas, não apenas as que conhecemos, mas todas as pessoas que vivem hoje no mundo, aproximadamente 7 bilhões, estarão mortas... 
    Com muita sorte, talvez permaneça a lembrança de uma minoria, talvez dezenas, no máximo centenas, que por algum feito extraordinário ou notável terão suas vidas, fotos ou obras apreciadas, estudadas, ou lidas. 
    Diante de uma verdade tão dura e inexorável, fica de novo a pergunta: por que tentamos fechar os olhos e fugir desse assunto? 
    Muitos dizem que as coisas e os problemas se tornam pequenos diante da morte. Penso que isso de fato acontece justamente porque não refletimos sobre nossa impermanência com mais frequência. 
    Se o fizéssemos, talvez daríamos outra importância para as coisas no nosso dia a dia. 
    Então por que em vez de pensar mais seriamente sobre isso, cair na real, e tomar atitudes para viver da melhor maneira possível o momento presente, com alegria e dando-lhe valor, nos esquivamos? 
    Talvez porque nossa cultura realmente não goste desse assunto, e em vão cria formas de evitá-lo, inúmeras respostas, contos, ou mesmo promessas de eternidade após a morte, na tentativa de superar o insuperável. 
    Mesmo sendo tudo um grande mistério, queremos acreditar na eternidade, na solidez.
    Isso certamente está relacionando ao nosso apego a essa forma que temos, nos identificamos, e que não queremos perder por nada.
    O apego é um vício emocional que não nos permite ver e agir com mais lucidez e que nos marca enquanto seres humanos. 
    É por esse apego que insistimos em negar a fluidez das coisas, da vida, do mundo e do próprio universo. 
    Não é outro motivo pelo qual tanto resistimos a aceitar a natureza cíclica e de constante transformação, que é inerente ao próprio conceito de vida. 
    Essa é a verdadeira causa de nosso sofrimento, pois por apego negamos o inegável, e insistimos em confiar, nos apoiar e tomar refúgio em coisas impermanentes. 
    Por isso, toda vez que o inevitável ocorre, sofremos. 
   Em termos mais radicais, há quem diga que morremos e renascemos todos os dias, a todo instante. 
    Criamos e dissolvemos identidades a cada novo fato ou objeto que surge à nossa frente, mas não enxergarmos isso e realmente nos apegamos a um ideal que criamos de nós mesmos e achamos que é algo sólido e estável. 
    Por mais que nossa experiência de vida demonstre que estamos sempre mudando, ainda assim é difícil pensar que o que chamamos de "eu", com uma essência, seja algo ilusório, que criamos, e que por isso mesmo pode ser desconstruído.
    Contudo, penso que basta parar um pouco para pensar e refletir a respeito para perceber toda essa impermanência que tanto queremos negar. 
  Com um pouco mais de esforço, quem sabe não paramos de negá-la e aproveitamos o que esse mundo cheio de possibilidades, exatamente por conta dessa mobilidade, tem a oferecer, apreciando cada momento único de forma mais leve e desprendida?
    Fica aqui o convite!

domingo, 3 de agosto de 2014

A promessa do futuro

Marcin Kolpanowicz


Tanto já foi dito sobre como o caminho é tão ou mais importante quanto o objetivo, mas acho que nunca é demais pensar ou falar sobre isso. 

Frequentemente olho ao redor, e parece que todos (ou quase todos), estão buscando incessantemente um ponto para alcançar, fazendo de tudo para chegar em algum lugar, se debatendo no caminho, insatisfeitos "por enquanto", sob a promessa de um futuro melhor, a ilusão e esperança de que um dia, quando alcançarem esse algo que almejam, poderão enfim descansar, ser felizes, e aproveitar a vida.
Como se esse tal dia ou lugar fosse de fato ser um ponto final, seguro, sólido e permanente...
Incrível como o ser humano tenta sempre deixar as coisas minimamente como deseja, e quando consegue, faz de tudo para manter da mesma maneira para sempre. 
Assim, vai estruturando a vida, fazendo planos, buscando ter as coisas sob controle, sem maiores problemas.
Engraçado como nessa maluquice esquecemos uma das maiores verdades da vida, a impermanência.
Criamos fixações, não conseguimos lidar bem quando algo nos afasta do que queremos ou nos aproxima do que não queremos, e com medo de perder o pouco que já foi conquistado, vamos criando barreiras absurdas contra as mudanças da vida, que parecem cada vez mais aterrorizantes. 
Desenvolvemos um receio de mudar completamente irracional. 
Mesmo quando são transformações favoráveis, ou quando as coisas já não estão muito boas, ainda assim nos agarramos ao pouco que temos com medo de perdê-lo.
Por conta disso, aceitamos relacionamentos estranhos, empregos ruins, amizades falsas, e ficamos chateados até mesmo quando essas coisas medíocres vão por água a baixo (não raro para trazer oportunidades melhores) porque no fim, sempre tememos e realmente esperamos que as coisas melhorem sem precisar de grandes mudanças.
Acontece que não importa o que façamos não há como vencer a impermanência e imprevisibilidade da vida. 
Por mais que tracemos metas e façamos tudo conforme o planejado, temos que trabalhar com o imponderável. 
Então por que quando as coisas não saem como esperamos nos frustamos? Por que não aprendemos a lidar melhor com essas questões, entendemos como as coisas funcionam e paramos de criar tantas expectativas?
Talvez seja preciso passar por várias frustrações, para que finalmente a gente se dê conta de que não controlamos o universo e de que não adianta resistir.
Mais cedo ou mais tarde, se realmente quisermos ficar de bem com a vida, é necessário fazer a mudança mais difícil de todas, que não é mudar de emprego, de relacionamento, de cidade, ou até mesmo de país. É preciso mudar de atitude, de padrões de pensamento.
Ao invés de criar planos megalomaníacos que nos levam a colocar em segundo plano nosso presente mais precioso, que é justamente o momento presente, simplesmente deixar o fluxo natural da vida correr. Sair da zona de conforto e tentar coisas novas, nem que a coisa nova seja não fazer nada, pois estamos tão atribulados, cheios de coisas para fazer, que talvez o diferente seja justamente ficar sozinho e parar para pensar um pouco. 
Talvez se fizéssemos isso com mais frequência, nos daríamos conta de que diante da ausência de controle sobre o amanhã e diante das impermanências da vida, realmente a única coisa que temos verdadeiramente para viver é o agora. 
Quem sabe aí, finalmente compreenderíamos as sábias palavras de Gandhi: 
"Não existe um caminho para a felicidade. A felicidade é o caminho." 
E o nosso caminho se tornaria, enfim, a nossa felicidade!

terça-feira, 22 de julho de 2014

Momentos

Voltando das férias, da Copa-do-mundo, e depois de organizar minimamente as coisas por aqui já que o computador antigo queimou, deixo mais uma reflexão, ou reflexo, do meu pequeno mundo interno.
Recentemente, enquanto apreciava um momento especial, me pus a pensar em como parece que a vida nada mais é do que uma coleção de momentos. 
Se isso for verdade, definitivamente não há coleção melhor para se fazer!
A cada momento marcante que coleciono, relembro diversos outros pretéritos. Alguns simbolizados por uma imagem, uma foto, um local, ou apenas uma boa memória.
Muitas vezes parece que nada poderia ser mais perfeito, e dessa sensação, surge uma grande gratidão pela oportunidade de vivenciar tanta coisa!

 Lugares lindos, paisagens, companhia, gente querida, música boa, som do mar, da natureza, clima gostoso, comidas e sabores, enfim, as mais diversas coisas que tocam um ou mais sentidos de forma tão agradável.

Logo surge a suspeita de que naquele pequeno momento cabe todo o universo, o infinito num instante, e a constatação de que foi necessária a combinação de inúmeros fatores para culminar apenas naquele local e tempo.
Dar-se conta disso é algo realmente sensacional e incomparável.
Como é bom lembrar de todos que já fizeram ou fazem parte desses momentos, mas alguém já parou para se questionar o que será que torna certas ocasiões tão especiais?
Será que são os fatores externos (o que vemos, cheiramos, degustamos ou apreciamos) que fazem a diferença?
Penso que não. Basta observar como uma mesma experiência pode ser sentida de diversas maneiras. Enquanto alguns desfrutam a situação, outros simplesmente não conseguem relaxar e se apegam a pequenos detalhes ou eventuais problemas.
É incrível como tem gente que consegue ficar de mau humor em um lugar paradisíaco por causa de um mosquito, porque esqueceu algo em casa, ou seja lá qual for o motivo.
Por isso, como reagimos aos eventuais imprevistos, problemas ou adversidades que podem surgir faz muita diferença!
Pode soar algo banal, mas na verdade é extremamente relevante, porque na vida absolutamente todos os fenômenos podem ser vistos de um ponto de vista ou outro, adjetivados de forma positiva ou negativa, ser ou não valorizados.
Portanto, a reação que temos está muito mais ligada a uma estrutura interna do que externa.
Compreender isso é super importante para conseguir enxergar e realizar a liberdade que temos frente ao que acontece. 
Afinal, como já falei antes, não precisamos ficar fixados em uma visão ou reação automática.
Felizmente eu tive a oportunidade de conhecer uma forma de ver e entender a vida que evidencia essa possibilidade e ensina como alcançar tal liberdade.
E não é tão difícil assim.
Associando uma visão e atitude corretas, é notório como as fixações internas e egóicas se reduzem para abrir espaço às virtudes como a compaixão, amorosidade, etc.
Com um pouco de prática, e com essas virtudes como referencial, altera-se completamente a forma de perceber e sentir o mundo, sobretudo se comparado à forma egoísta e mesquinha em que estamos acostumado a viver.
É algo que definitivamente revoluciona silenciosamente por dentro e, consequentemente, o que vemos fora.
Mais uma prova de que nossa atitude interna é que determina como vemos o externo. 

De fato vivemos em um mundo espelhado. Não é a toda que é esse o nome do blog!
Tudo que vemos é um espelho de nossa mente. Mais do que nunca, a demonstração de um pensamento que, apesar de já ter se tornado até clichê, poucos realmente entendem, ou, quando entendem, ignoram, de que para mudarmos o mundo a melhor forma é começando alterando a nós mesmos.
Temos uma capacidade incrível de criar a configuração ou interpretação que quisermos dos fenômenos, e isso é tudo que podemos fazer.
Tem até música que diz isso:
Muda, que quando a gente muda o mundo muda com a gente
A gente muda o mundo na mudança da mente
E quando a mente muda a gente anda pra frente
E quando a gente manda ninguém manda na gente!
Na mudança de atitude não há mal que não se mude nem doença sem cura
Na mudança de postura a gente fica mais seguro
Na mudança do presente a gente molda o futuro!
(Gabriel o Pensador) 
   
Eu não poderia concordar mais! 

Como conclusão lógica de tudo que foi dito, fica uma sugestão...

Se você sorrir para a vida certamente ela vai sorrir de volta, então, que tal sorrir sempre e mais? :)

domingo, 15 de junho de 2014

Qual é o objetivo afinal?

Vladmir Kush
Às vezes dá vontade de gritar pra todo mundo (e pra mim mesma também): Hei acorda! Olha o que você está fazendo. Acorda!!! 

Estamos tão hipnotizados pelo nosso dia a dia, pelas nossas preocupações mesquinhas, em nossos mundinhos internos, com tantas respostas automáticas, etc, que parece impossível simplesmente perceber o outro, ou que qualquer coisa original e inovadora aconteça. 

Parece que para qualquer fato da vida ou qualquer coisa que alguém diga já temos uma resposta dada, pronta, pré formulada. Nos achamos maduros, adultos e bem resolvidos por já termos elaborado formas de responder às mais diversas questões e adversidades da vida e achamos que é isso que temos que fazer. 

Será que só pra mim isso parece aprisionante

A gente se amarra cada vez mais em uma única forma de ver o mundo e de pensar, depois achamos que temos que sustentar aquela forma de responder e de fazer as coisas a todo instante para o resto da vida. E mesmo que todo mundo mude constantemente, e que por qualquer descuido já não se saiba mais quem é, ninguém se dá conta de que isso é só uma invenção maluca. 

Qualquer coisa que sai um pouquinho do esperado já faz surgir algumas frases clássicas - Eu deveria ter feito assim, deveria ter dito aquilo, fui pego de surpresa, blá blá blá.

Nessa vidinha nada original e engessada, seguimos achando que o certo é lutar pelo que se acredita, não levar desaforo pra casa, nunca ficar por baixo em uma discussão, vencer, vencer e vencer. Afinal, os argumentos dos outros são ridículos, pois eles estão sempre errados, ou, nas palavras do filósofo, "o inferno são os outros"! 

Caramba!! Que vida horrível uma pessoa assim deve levar, tudo e todos ao redor incomodam, tudo está sempre errado, tudo é ruim, esse país é uma porcaria, as pessoas não são confiáveis... Realmente é um inferno! 

Viver na defensiva porque os outros podem enganar ou passar a perna, os ladrões estão à solta e podem assaltar, os insetos e bichos podem atacar... Sempre tem algo pra se preocupar, algo pra se defender, e ai daquele que ousar questionar essa visão! 

Logo surgem algumas pedras na mão: - Você fala isso porque não é com você! Eu tenho que se assim porque se for diferente... 

Se for diferente o quê?

Quantas vezes, já não escutamos a máxima: - Só podia ser comigo mesmo! 

Chega até a ser engraçado, tragicômico talvez! É tudo tão previsível que há quem já tenha estudado esses comportamentos há milênios! 

Sabe o que é pior (ou melhor)? É verdade! 

Realmente o inferno são os "outros" e realmente só podia acontecer com você! 

Sabe por quê? 

Porque só nessa visão bem particular do mundo “isso” é assim. Por mais que ao contar para os outros muita gente possa concordar, é apenas naquela configuração mental que você criou que as coisas são daquele jeito. 

Isso significa que essa é apenas uma visão possível, não a única! E é por isso que, a cada causo novo na vida, própria ou dos outros (não faz diferença), dá vontade de gritar: Acorda! 

É incrível o que pode acontecer quando a gente para de tentar sustentar o tempo todo determinada visão do mundo, das coisas ou das pessoas, e deixamos um espacinho, ainda que mínimo, se abrir. 

Uma vez ouvi um mestre falar que ser iluminado é cultivar boas relações para todos os lados, com todos os seres. 

Nada faz mais sentido, porque definitivamente podemos transformar esse inferno que é a nossa visão do outro (presta atenção!) em um verdadeiro paraíso. 

Pode parecer impossível para alguns, e sempre tem alguma história.

- Mas como é que pode, impossível ter uma boa relação com aquele ser terrível que me ofendeu!

E novamente é verdade, dentro dessa perspectiva não dá mesmo, dentro desta forma de ver, realmente não dá! 

Mas, se você parar e pensar, quem se ofendeu? Vai se dar conta de que é exatamente aquela criação a que me referia, exatamente aquele ser que sempre vê o mundo da mesma maneira e que não pode perder.

Sem abrir o mínimo de espaço e se questionar, de fato não tem como ter uma boa relação com todos aqueles babacas (mesmo que os amigos e as mães deles amem eles  - só podem ser loucos ou babacas como eles né?!). Risos 

Ainda mais sutil e mais difícil é fazer isso com seres execráveis quase que por unanimidade! 

Se eu me referi a todos os seres e não apenas pessoas, como fazer com aquela barata nojenta? E com o mosquito que quer me picar? E o cupim que ta comendo minha madeira? Hahaha 

É difícil mesmo, porque minha casa, minha madeira, meu quarto, minha ideia, não podem ser confrontados nem invadidos por ninguém, nem por um mosquito sequer!! 

Não é um campo fácil de se avançar, mas penso o que importa realmente não são esses detalhes nem questões mais complexas, mas sim apenas deixar a mensagem de que é possível ser diferente

Me surpreende como são poucas as pessoas que dizem isso. Acho que é por isso que eu escrevo... 

Estou mesmo convencida de que o objetivo não é ser reconhecido por alguém (o que pode ser desesperador pra muita gente), muito menos ganhar de ninguém. 

Talvez então o objetivo seja ficar em paz, e se divertir, aproveitar a liberdade que temos para criar coisas diferentes e lúdicas, ao invés de ficar sustentando sempre as mesmas formas.

É mesmo como disse o mestre, ter boas relações com todos os seres. E por mais que dezenas de vezes por dia eu tenha que me lembrar "hei acorda", falo tudo isso por experiência própria. 

Você não faz ideia como sua interação com o mundo pode mudar! 

É possível, e no fim nem é tão difícil, basta abrir só um pouquinho de espaço aí dentro desse coração aprisionado em convicções. Não precisa ter medo, nada de ruim vai acontecer! Na pior das hipóteses você pode acordar! =)